Barcelona: ser profundamente feliz a ver futebol
Barcelona: ser profundamente feliz a ver futebol
Uma noite maravilhosa em Camp Nou
Apetece acordar, ligar a televisão e ver outra vez. E outra, e outra.
O Barcelona-Real Madrid não foi um dos melhores jogos de futebol que vi, porque um grande jogo precisa sempre de duas equipas. E ontem, em Camp Nou, só houve uma. Mas essa foi tão boa, jogou tanto que a noite tornou-se inesquecível.
Acho que só quem gosta mesmo de futebol (e estima-se que ontem tenham sido 400 milhões de pessoas a gostar, um pouco por todo o Mundo) pode ser profundamente feliz a ver um jogo. Não estou a falar da felicidade de ver o nosso clube vencer, o nosso jogador preferido marcar três golos. Nada disso.
Estou a falar de futebol, do incrível prazer de ver jogar bem. O mesmo tipo de prazer que sentimos num grande concerto, num filme imortal, na frase de um livro que viverá sempre connosco.
O Barcelona simboliza isto. O Barcelona é isto.
O Barcelona é hoje, também, o maior desafio da vida de qualquer treinador. Não há nada mais entusiasmante do que tentar descobrir a chave do enigma: tenho de ir a Camp Nou e sair vivo, como farei?
À partida, como nas missões impossíveis, parece não haver porta por onde escapar.
O guarda-redes cumpre. A defesa, sem estrelas impressionantes, forma um bloco notável. O meio-campo é o que vocês sabem. E ainda há Villa, mais uma quantidade de miúdos, todos iguais, que nascem na cantera. E Messi.
Mais do que o melhor do mundo, Messi é um jogador como nunca houve. Porque nunca apareceu um génio que encarnasse em campo a cultura de um clube, fosse bem educado, equilibrado, humilde, bom rapaz e ainda olhasse para o jogo do ponto de vista colectivo.
Messi é tudo. É por isso que se torna quase impossível pará-lo.
E no entanto, Messi não é o centro do futebol do Barcelona, nem tão pouco Xavi ou Iniesta. O perigo pode começar em todo o lado, nos pés de qualquer futebolista. Quando a bola está parada, quando está serena, mas também quando lhe dão velocidade.
Ao olharmos para aquele futebol do ponto de vista racional, apetece fazer a escolha mais improvável: ficar parado, lá atrás, à espera. Seria a única escolha lógica. Sabemos que de alguma forma eles conseguirão chegar perto da nossa área, com a bola dominada. Por que não esperar «sentado»? E no entanto todos tentam algo diferente, porque o Barcelona gosta de mostrar a bola, gosta de permitir ao adversário pensar que é possível roubá-la e chegar a Valdés. É quase sempre mentira, sabemos.
O Barcelona também perde, dizem os números. Mas este é um dos casos em que a verdade, por mais material que possa parecer, ainda assim permite a desconfiança. Uma equipa como aquela nunca é derrotada. Não pode ser.
Pode seguir o jornalista Luís Sobral no Twitter, aqui.
3 Comments:
O comentário de Luis Sobral quase que comove na sua sinceridade, na sua verdade, no seu cerne. Um óptimo trabalho de um óptimo jornalista, que nos apetece ler, e ler e voltar a ler ...
Maria José
Penya Barcelonista de Lisboa
By Anònim, at 11:20 p. m.
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